sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

CRÔNICA - O menino estava lá

Escrito por Mitchell Rosemberg   



Ele tinha 10/11 anos, era a geral do Maracanã, seu pai queria ir embora, mas o menino queria ficar. Era seu primeiro jogo no maior do mundo. Seu primeiro jogo vendo o Fluminense jogar uma final. Era o maior clássico do mundo. Era 1995. Em meio à euforia do submundo, veio o gol de escudo, sim de escudo, do artilheiro de faixa na cabeça. Eram quase 43 do segundo tempo, a minoria inteligente presente no maior do mundo fazia a festa, o menino olhava para seu pai, que havia visto o grande Fluminense dos anos 70 e 80. Choravam os dois. O menino não esquece até hoje.
Ele tinha 24 anos, era 2008. O menino estava lá. Ele viu o Fluminense quebrar tabus, matar gigantes. Ele viu o gol do Washington, ele não acreditava no gol, ele esperava pelo gol. Ele viu o mesmo artilheiro de faixa na cabeça dizer “Boca Juniors, prazer, Fluminense”. Ele viu a maior festa já feita por um clube no maior do mundo. E ele aprendeu que a dor da derrota, é muito maior que o sabor da vitória.
Ao digitar o texto, o menino relembra...
Ele tinha 11/12 anos, era 1996. Haja Champanhe.
Ele tinha 12/13 anos, era 1997. A maior das tristezas até então.
Ele tinha 13/14 anos, era 1998. Ele estava na estréia no maior do mundo, seu time jogava ali a primeira partida da Série B, o menino ganhara a sua primeira camisa oficial. Amarga derrota. Era final de ano, o menino então via seu time sucumbir à má administração, e cair consideravelmente para uma Séria C, que o menino sequer sabia que existia.
Ele tinha 14/15 anos, era 1999. Ele já trabalhava.  Foi a todos os jogos do Fluminense em casa nesse ano. Ele viu o professor de 1984. Ele viu a volta a Série B. Ele viu, ele estava lá.
Ele tinha 25 anos, era 2009. Eis que o fantasma da série B volta para a cabeça do menino. Ele não sabe mais o que fazer. Eis que a torcida resolve jogar e veste a camisa 12. O menino novamente estava lá. Calor de 40° e Fluminense x Palmeiras no maior do mundo, festa com mosaico, 60mil torcedores e um gol. Ele viu, ele estava lá.
Ainda em 2009, o mesmo fantasma de 2008 aparece no caminho do Fluminense. A mesma altitude, a mesma falha no planejamento e uma derrota de 5 a 1. Fluminense para baixo. Eis que 400 torcedores aparecem como uma multidão. Criam uma música “Time de Guerreiros”. Guerreiros eram mais os torcedores do que os jogadores. Mas como uma forma de passar toda nossa força, entoávamos então esse mantra. O menino viu no aeroporto. O menino estava lá.
Ano de 2010. O menino com 26 anos, novamente estará lá. Novamente ele verá. Porém antes do jogo, o menino não consegue levar sua vida normal.
O Fluminense simplesmente toma conta da vida dos seus torcedores. Não existe torcedor do Fluminense que é torcedor apenas por ser. Quem torce pro Fluminense é puro amor, puro sangue, puro vigor. É completamente inexplicável o que move a torcida do Fluminense. Não há números que indiquem o tamanho da nossa torcida. Os números não conseguem expressar a quantidade do amor que tem o torcedor.
O menino espera então, que em 2011 ele possa novamente dizer:
Quando o Fluminense foi TRI-Campeão Brasileiro. O menino viu, ele estava lá.

Mitchell Rosemberg