sábado, 5 de fevereiro de 2011

SÉRIE - MUNDIAL DE 1952


Fluminense 0 x 0 Sporting Lisboa - POR


Rio de Janeiro, 13 de julho de 1952.

Amigos, começou hoje a luta do Fluminense na Copa Rio, o Campeonato Mundial de clubes. Nosso adversário foi o grande campeão português Sporting Lisboa. Foi um match sensacional, em que os portugueses, resistindo bravamente aos ataques mais penetrantes dos tricolores, chegaram ao final da luta com um honroso empate por 0 x 0. No Pacaembu, o campeão paulista - Corinthians - estreou de forma espetacular goleando o Saarbrücken, da Alemanha, por 6 x 1. [1]

O grande público presente na estréia do Fluminense no Maracanã - 73.915 pessoas - comprova a importância da competição organizada pela CBD, com o aval da FIFA e o patrocínio da Prefeitura do Rio.

Os campeões portugueses armaram uma retranca e tanto, oferecendo grande resistência ao ataque dos campeões cariocas. Nem mesmo as alterações do técnico Zezé Moreira (Marinho e Róbson) conseguiram romper a defesa lisboeta. O goleiro Carlos Gomes, do Sporting Lisboa, realizou intervenções milagrosas, que impediram os tentos da equipe pó-de-arroz. O arqueiro português foi hoje uma bastilha inexpugnável.

O empate sem gols acabou sendo um resultado justo ao final da partida, apesar da frustração do grande público. Afinal, sempre queremos ver gols, que são os grandes momentos do futebol.

O tricolor volta a campo no dia 17, contra o campeão suíço Grasshopper-Club, de Zurique. Desta vez, precisaremos da vitória. Afinal, o campeão uruguaio Peñarol venceu os suíços na estréia (1 x 0).

Ficha técnica: Fluminense 0 x 0 Sporting Lisboa
Data: 13/07/1952.
Local: Maracanã, Rio de Janeiro.
Fluminense: Castilho; Píndaro e Pinheiro; Jair, Édson e Bigode; Telê, Didi, Carlyle (Marinho), Orlando Pingo de Ouro (Róbson) e Quincas. Técnico: Zezé Moreira.
Sporting Lisboa: Carlos Gomes; Carvalho e Pacheco; Barros, Passos e Juca; Jesus Correia, Vasquez (Faia), Martins, Travassos e Albano. Técnico: Alvaro Cardoso.
Árbitro: Eugen Dinger (Alemanha).
Público pagante: 63.183.
Público presente: 73.915.
Renda: CR$ 1.802.763,50.


FOTO: o time do Sporting Lisboa no Maracanã.


Em pé: Carlos Gomes, Carvalho, Passos, Pacheco, Juca e Barros.
Agachados: Jesus Correia, Vasquez, Martins, Travassos e Albano.

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Fluminense 1 x 0 Grasshopper-Club - SUI




Rio de Janeiro, 17 de julho de 1952.

Amigos, a batalha contra os campeões suíços foi nosso segundo jogo e nossa primeira vitória! Voltou o campeão carioca ao Maracanã para enfrentar o Grasshopper-Club de Zurique e viver outro drama intenso. Encontrando a mesma dificuldade que havia encontrado o Peñarol para romper o ferrôlho suíço, o Fluminense não conseguiu nada no primeiro tempo, que terminou 0 x 0. E na segunda fase, somente quando faltavam doze minutos para findar a luta, foi que marcou o gol da vitória. Já no Pacaembu, o Corinthians voltou a marcar um triunfo fácil, abatendo o Libertad, pela ampla vantagem de 6 x 0. [1]

Exaltemos o grande herói do triunfo: Mário Pedro, ou simplesmente Marinho. Seu tento foi importantíssimo, pois mantém as esperanças tricolores na Copa Rio. É bem verdade que ainda estamos atrás do Peñarol, que venceu seus dois jogos (1 a 0 no Grasshopper-Club e 3 a 1 no Sporting Lisboa). Porém, basta-nos a vitória diante dos uruguaios, na próxima batalha, para terminarmos em primeiro do grupo.

O público foi um pouco decepcionante: apenas cerca de 20.000 pessoas acompanharam o match no Maracanã. Porém, há justificativa: o povo pó-de-arroz está guardando seus níqueis para o próximo confronto. O Fluminense enfrentará o campeão uruguaio Peñarol, com Ghiggia, Schiaffino e meio escrete celeste. Ainda não engolimos o Maracanazo de dois anos atrás. Domingo (20), os tricolores vivos, doentes e mortos se unirão nas arquibancadas, gerais e cadeiras do Maior do Mundo: vamos nos vingar de 1950.

Ficha técnica: Fluminense 1 x 0 Grasshopper-Club
Data: 17/07/1952.
Local: Maracanã, Rio de Janeiro.
Fluminense: Castilho; Píndaro e Pinheiro; Jair, Édson e Bigode; Lino (Telê), Didi, Marinho, Orlando Pingo de Ouro (Villalobos) e Róbson. Técnico: Zezé Moreira.
Grasshopper-Club: Thomas Preiss; Willy Neukom e René Kern; Gaston Vonlanthen I, Paul Bouvard (Frosio) e Aldo Zappia; Alfred Bickel, Hans Hagen, Ivo Frosio (Werner Hüssy I), Roger Vonlanthen II (René Hüssy II) e Robert Ballaman. Técnico: Willi Treml (alemão).
Árbitro: Arnoud Galbert (França).
Público pagante: 10.998.
Público presente: 19.703.
Renda: CR$ 315.355,70.
Gol: Marinho, aos 33 minutos do segundo tempo.




Foto do livro de registros do Fluminense, na página do jogo contra o Grasshopper-Club.

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Fluminense 3 x 0 Peñarol - URU

Rio de Janeiro, 20 de julho de 1952.


Amigos, vocês se lembram da derrota de 1950. Foi uma humilhação pior que a de Canudos, uma vergonha que ainda dói na carne e na alma de cada brasileiro. Os uruguaios ganharam da nossa Seleção, no grito e no dedo-na-cara. E não me venham dizer que a Seleção é apenas um time. Não. Se uma equipe entra em campo com o nome do Brasil e tendo por fundo musical o hino nacional, é como se fosse a pátria em calções e chuteiras, a dar botinadas e a receber botinadas.

Pois bem, no último dia 16 a tragédia completou dois anos, embora tenhamos a dolorida impressão de que foi ontem. Mas hoje tivemos a reedição da batalha: o Brasil vestido de branco, e o Uruguai vestido de preto e amarelo. Escorria gente pelas paredes do Maracanã: eram dezenas de milhares de fanáticos sedentos com o desejo da revanche. Desta feita, são os uruguaios que possuem a melhor campanha, e portanto o direito de empatar. Os brasileiros do Fluminense tinham que vencer. Era essa a atmosfera do confronto que encerraria a primeira fase da Copa Rio, o Campeonato Mundial de Clubes.

O Peñarol, campeão do Uruguai, era o adversário do pó-de-arroz na decisão da chave. O quadro tricolor vem de uma campanha irregular no certame, após o empate com o Sporting Lisboa e a magra vitória sobre o Grasshopper-Club. Resultados pouco convincentes, que faziam o Fluminense entrar no gramado sem a credencial de favorito.

Todavia, desde os momentos iniciais da peleja, o time das Laranjeiras, com uma atuação impetuosa e homogênea, mostrou que o esquadrão campeão carioca ainda estava vivo.

Então surgiu o primeiro gol tricolor, com Marinho, aos 36 minutos de jogo. E ninguém mais duvidava do triunfo sobre o campeão do Uruguai. O jogo prosseguiu movimentado e atraente, com o poderoso esquadrão aurinegro resistindo e valorizando a vitória do Fluminense. Mas, aos 44, Orlando Pingo de Ouro amplia para o Tricolor: 2 a 0.

No jogo do time carioca, mais uma vez se destacava, pelo seu jogo de alta classe, o meia Didi. No quadro de Montevidéu, estavam lá várias estrelas campeãs em 1950. Rodríguez Andrade ficou famoso por anular Zizinho há dois anos, mas hoje não conseguia anular ninguém. Schiaffino e Ghiggia cravaram seus gols na final de 1950, mas hoje esbarravam em Castilho, Píndaro e Pinheiro. Romero, Vidal e Míguez, outros co-autores da tragédia de dois anos atrás, também tinham suas potencialidades amenizadas pela eficiente marcação tricolor.

E então surge o terceiro e definitivo tento, novamente por meio de Marinho. Os 3 a 0 eram a sentença da revanche tupiniquim. Enfiando três gols goela abaixo do Peñarol recheado de heróis de 1950, o Fluminense vingou cada lágrima brasileira do Maracanazo. A revanche verde e amarela estava consumada, para sempre, em verde, branco e grená.

Ficha técnica: Fluminense 3 x 0 Peñarol
Data: 20/07/1952.
Local: Maracanã, Rio de Janeiro.
Fluminense: Castilho; Píndaro e Pinheiro; Jair, Édson e Bigode; Telê, Didi, Marinho, Orlando Pingo de Ouro (Villalobos) e Róbson. Técnico: Zezé Moreira.
Peñarol: Nattero; Davoine e Colturi; Rodríguez Andrade, Nardeli e Romero; Ghiggia, Hohberg, Romay (Míguez), Schiaffino (Abadie) e Vidal. Técnico: Juan Lopez.
Árbitro: Eugen Dinger (Alemanha).
Público pagante: 51.436.
Público presente: 63.536.
Renda: CR$ 1.445.643,30.
Gols: Marinho aos 36 minutos do primeiro tempo; Orlando Pingo de Ouro aos 44 do primeiro 
tempo; e Marinho aos 30 do segundo tempo.
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Fluminense 1 x 0 Áustria Viena - AUT

Rio de Janeiro, 23 de julho de 1952.


Amigos, o Fluminense foi o primeiro lugar da chave carioca da Copa Rio, e assim o adversário da semifinal é o Áustria Viena, segundo colocado da chave paulista.


Hoje ocorreu o primeiro jogo da semifinal, no Estádio do Maracanã. E o Fluminense conquistou mais uma grande vitória. Há que se valorizar o time adversário, que conta com grandes nomes do futebol europeu. No meio-campo, estava Ernst Ocwirk, apelidado pela imprensa britânica de Clockwork, por causa de seu jogo consistente e seus passes precisos. No ataque, o infernal centroavante canhoto Ernst Stojaspal é um goleador nato (me cochicham aqui que ele já foi quatro vezes artilheiro do Campeonato Austríaco).

E a forte equipe de Viena não facilitou a vida tricolor: tanto que o gol da vitória do Fluminense só veio aos trinta minutos da segunda etapa, com o sempre elegante Didi, em fantástico chute de folha seca, sua especialidade. Fluminense 1, Áustria Viena 0!

Mas não foi Didi o único destaque do Fluminense. Castilho fez intervenções espetaculares, evitando que os austríacos vazassem a meta pó-de-arroz. Também Telê realizou excelente partida, com seu inigualável poder de criação.

Na semifinal do Pacaembu, o Corinthians bateu o Peñarol por 2 a 1, em partida violentíssima. Dois jogadores do campeão paulista - Baltazar e Murilo - sofreram graves lesões e estão fora do restante do campeonato. Dois jogadores uruguaios (Romero e Míguez) foram expulsos pelo árbitro alemão Eugen Dinger. A direção do campeão uruguaio deixou clara sua insatisfação com o juiz, e ameaça nem disputar a partida de volta.

Voltando a Fluminense x Áustria Viena: domingo, dia 27, teremos o segundo e decisivo jogo no Maracanã. O triunfo de hoje foi de grande importância para o Fluminense, que agora possui a vantagem do empate.

Ficha técnica: Fluminense 1 x 0 Áustria Viena (FK Austria Wien)
Data: 23/07/1952.
Local: Maracanã, Rio de Janeiro.
Fluminense: Castilho; Píndaro e Pinheiro; Jair, Édson e Bigode; Telê (Quincas), Didi, Orlando Pingo de Ouro (Simões), Marinho e Róbson. Técnico: Zezé Moreira.
Áustria Viena: Paul Schweda; Karl Stotz e Karl Kowanz; Walter Schleger, Ernst Ocwirk e Franz Swoboda; Ernst Melchior (Rudolf Pichler), Fritz Kominek, Adolf Huber, Ernst Stojaspal e Lukas Aurednik. Técnico: Heinrich Müller.
Árbitro: Gabriel Tordjaman (França).
Público pagante: 23.105.
Público presente: 34.180.
Renda: CR$ 665.210,50.
Gol: Didi, aos 30 minutos do segundo tempo.

Fotos:

(time do Fluminense na Copa Rio, o Campeonato Mundial de Clubes de 1952)

(Zezé Moreira, técnico do Fluminense na Copa Rio de 1952)


(time titular do FK Austria Wien em 1952)


(Heinrich Müller, treinador do FK Austria Wien)
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Fluminense 5 x 2 Áustria Viena - AUT

Rio de Janeiro, 27 de julho de 1952.

Amigos, o Tricolor está na finalíssima do Mundial! Hoje tivemos a nossa mais bela vitória. Sequer precisávamos vencer, mas atropelamos! O esquadrão do Áustria Viena não conseguiu segurar nossos craques, que lutaram com ímpeto e paixão inexcedíveis!

O quadro de Laranjeiras ignorou a vantagem obtida no primeiro jogo, e se lançou todo para o ataque. Logo aos seis minutos, Telê, nosso Fio de Esperança, abriu o marcador. Abençoado seja Telê Santana, cuja vida se confunde com as três cores do querido pavilhão.

Porém, a equipe vienense logo passou a demonstrar sua força. Quando o cronômetro marcava um quarto de hora, o infernal centroavante canhoto Ernst Stojaspal empatou a peleja, dando nova vida às esperanças austríacas. E, cinco minutos depois, Rudolf Pichler venceu Castilho, assinalando 2 a 1. Como o Fluminense vencera por 1 a 0 na ida, estava tudo empatado novamente.

Mas o domingo era tricolor, e empurrado por seu povo o Fluminense partiu para a reação espetacular. E então começou a brilhar a estrela do meu personagem do domingo: Orlando Pingo de Ouro.

Quando se pensa num centroavante goleador, vem logo a imagem de um sujeito forte, com físico privilegiado. Não é o caso de Orlando, que é um pernambucano franzino, praticamente um pingo de gente. Em compensação, a mãe natureza deu a Orlando ginga, malícia e inteligência, que o fazem se posicionar bem, sempre no local certo para marcar os gols. Esse faro de gol e a técnica apuradíssima nas finalizações fazem do Pingo de Ouro um grande gênio do esporte bretão.

Ainda no primeiro tempo, Orlando foi o responsável pela virada pó-de-arroz, primeiro aos 31 minutos, e depois aos 41. O placar de 3 a 2 voltava a dar tranqüilidade ao Fluminense: a vaga de finalista estava próxima.

Então veio a segunda etapa, e o Tricolor continuou arrasador. Logo aos oito minutos, o ponta-esquerda Quincas fez 4 a 2. E aos vinte, Orlando Pingo de Ouro completou seu hat-trick. O score de 5 a 2 era o passaporte tricolor para a finalíssima da Copa Rio.

Na semana que começa, o Maracanã receberá os dois jogos mais importantes de nossa cinqüentenária história. Fluminense e Corinthians quebrarão lanças na batalha pelo troféu mundial. Os tricolores vivos e mortos comparecerão ao Maracanã. Com os torcedores de hoje e os fantasmas de velhos triunfos, o pó-de-arroz tentará conquistar a sua maior glória.

Ficha técnica: Fluminense 5 x 2 Áustria Viena (FK Austria Wien)
Data: 27/07/1952.
Local: Maracanã, Rio de Janeiro.
Fluminense: Castilho; Píndaro e Pinheiro; Jair, Édson e Bigode; Telê, Didi (Róbson), Marinho (Simões), Orlando Pingo de Ouro e Quincas. Técnico: Zezé Moreira.
Áustria Viena: Paul Schweda; Karl Stotz e Karl Kowanz; Walter Schleger, Ernst Ocwirk e Franz Swoboda; Fritz Kominek, Adolf Huber, Rudolf Pichler, Ernst Stojaspal e Lukas Aurednik. Técnico: Heinrich Müller.
Árbitro: Joaquim Campos (Portugal).
Público pagante: 33.897.
Público presente: 45.623.
Renda: CR$ 948.300,50.
Gols:
- primeiro tempo: Telê aos 6 minutos (1-0); Ernst Stojaspal aos 15' (1-1); Rudolf Pichler aos 20' (1-2); Orlando Pingo de Ouro aos 31' (2-2) e aos 41' (3-2).
- segundo tempo: Quincas aos 8' (4-2) e Orlando Pingo de Ouro aos 20' (5-2).

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Primeiro Jogo da Descisão - Fluminense 2 x 0 Corinthians


Rio de Janeiro, 30 de julho de 1952.

Amigos, a vitória desta quarta-feira foi a mais importante de todas. Numa final de dois jogos, o mais importante é o primeiro. O time que quer ser campeão precisa se impor na primeira partida. É óbvio que é o segundo jogo que define tudo, e que é possível virar uma situação desvantajosa. Porém, muito melhor é não precisar virar nada: muito melhor é estar em vantagem o tempo todo.

Foi isso que o Fluminense fez hoje, diante dos campeões paulistas: impôs o seu futebol, do instante inicial ao minuto derradeiro. O quadro de Álvaro Chaves foi uma verdadeira máquina de jogar bola, espremendo o Corinthians contra o seu próprio gol.

Quando o cronômetro marcava vinte e dois minutos, Orlando Pingo de Ouro, o atacante que é a cara do Fluminense, abriu o placar para o Tricolor. Foi o quinto gol de Orlando na Copa Rio: ele é agora o artilheiro isolado do certame.

No segundo tempo, o Fluminense manteve a pressão, buscando o segundo tento, que significaria enorme vantagem. E foi Marinho, aos 25 minutos, que concretizou o sonho pó-de-arroz. Foi a quarta vez que Marinho balançou as redes na Copa Rio. Fluminense 2 a 0, e o placar não mudou mais.

Me perdoem por não dar mais detalhes do jogo em si. Explico minha sonegação: em uma final, a tática e a estratégia dão lugar ao coração, e a razão é substituída pela emoção. É por isso que as finais são sublimes, é por isso que as decisões são eternas. Nosso austero técnico Zezé Moreira tem a sua importância, claro. Mas, numa final, o fator que desequilibra mesmo é o coração na ponta da chuteira: é o sangue verde, branco e grená jorrando paixão.

Sábado é o grande dia. Os tricolores vivos, doentes e mortos subirão as rampas do Maracanã. Os vivos sairão de suas casas, os doentes de suas camas, e os mortos de suas tumbas. Nós, torcedores do passado, do presente e do futuro, empurraremos o Fluminense para a glória suprema.

Ficha técnica: Fluminense 2 x 0 Corinthians
Data: 30/07/1952.
Local: Maracanã, Rio de Janeiro.
Fluminense: Castilho; Píndaro e Pinheiro; Jair, Édson e Bigode; Telê (Robson), Didi, Marinho (Simões), Orlando Pingo de Ouro e Quincas. Técnico: Zezé Moreira.
Corinthians: Gilmar; Homero e Olavo; Idário, Julião e Sula; Cláudio, Luizinho, Carbone, Gatão (Jackson) e Mário (Colombo). Técnico: Rato.
Árbitro: Joaquim Campos (Portugal).
Público pagante: 27.094.
Público presente: 38.680.
Renda: CR$ 770.590,90.
Gols: Orlando Pingo de Ouro (aos 22 minutos do primeiro tempo) e Marinho (aos 25 minutos do segundo tempo).



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Segundo jogo da Decisão: Fluminense 2 x 2 Corinthians


Rio de Janeiro, 2 de agosto de 1952.

Amigos, a humildade acaba aqui: desde hoje, o Fluminense é o campeão do mundo. A equipe tricolor fez uma partida perfeita, irretocável. Lutou com a alma indomável do campeão. O resultado não poderia ser outro, senão a glória, senão o título. A Copa Rio repousará, feliz e para sempre, na abarrotada sala de troféus da Rua Álvaro Chaves.

Não se conquista uma taça num único dia, numa única noite. Não. Um título é todo sangue, todo suor e todo lágrimas de um campeonato inteiro. Após o empate, na estréia, com o Sporting Lisboa, o campeão português, não se interrompeu mais a ascensão para a glória. Passamos pelo Grasshopper-Club, o campeão suíço, e depois atropelamos o Peñarol, o campeão uruguaio. Então, veio o poderoso Áustria Viena, e também ficou pelo caminho. Por fim, vencemos o Corinthians, o campeão paulista. Não só vencemos o mais difícil e conceituado campeonato de clubes já organizado até hoje. Conquistamos o valioso troféu invictos, em uma campanha épica.

O Corinthians, campeão de São Paulo, foi o adversário do Tricolor na grande decisão da Copa Rio. Mesmo tendo sido vitorioso no primeiro encontro (dia 30), o Fluminense logo se avantajou no placar, disposto a conquistar o Campeonato de maneira digna e categórica. O primeiro gol ocorreu aos 10 minutos, e veio dos pés de mestre Didi. O Corinthians, como é natural, não concordava com as pretensões tricolores, e lutava com galhardia para reverter a situação. {inspiração em [9]}

Quando começou a segunda etapa do memorável confronto, em que dois times brasileiros disputavam a honra de possuir o título oficioso de Campeão Mundial Interclubes, a peleja, autêntico prélio de dois gigantes, aumentou em beleza e intensidade. Cada minuto que se escoava era mais um passo que o Fluminense dava em direção ao título, e era mais uma dose de esperança perdida pelo Corinthians. [9]

Os campeões paulistas finalmente alcançaram seu tento, com Jackson, quando o cronômetro apontava 11 minutos. O Fluminense continuava em boa situação, posto que o empate lhe bastava. Porém, mesmo assim, a equipe tricolor lançou-se toda para a frente, como se necessitasse da vitória tanto quanto o oponente. Aos 25, Marinho marcou o seu quinto gol na Copa Rio, igualando-se a Orlando Pingo de Ouro na artilharia. O tento foi deveras importante, uma vez que voltou a pôr o Fluminense na frente: 2 a 1.

O alvinegro paulista ainda conseguiu marcar o gol de empate, por meio de Souzinha, aos 44 minutos. Mas isso não era suficiente para impedir a glória do Fluminense. O esquadrão de Álvaro Chaves demonstrou tudo o que pode se exigir de um autêntico campeão: fibra, entusiasmo, capacidade técnica e ciência do jogo. [7]

E quem é o grande personagem da conquista? Poderia destacar qualquer jogador pó-de-arroz, do goleiro ao ponta-esquerda: todos, todos tiveram uma garra, um ímpeto e uma paixão inexcedíveis. Orlando e Marinho, nossos artilheiros. Telê e Didi, nossos maestros. Píndaro e Pinheiro, as duas torres inexpugnáveis na defesa. Jair, Édson e Bigode, o trio indomável no meio-de-campo. Quincas, Róbson e Simões, sempre dando conta do recado no ataque. Zezé Moreira, nosso austero comandante à beira do campo. Mas um nome se destaca, em alto relevo, acima de todos os outros: o de Carlos José Castilho, nosso arqueiro.

Sobre ele, pego emprestadas as palavras publicadas na Revista do Esporte desta semana:
"O Fluminense desde que se ofuscou a estrela de Batatais teve bons keepers, mas Castilho é o ocupante da posição de todos que sucederam o 'rei da colocação'. Atingiu o jovem keeper o ponto alto de sua carreira no Pan-Americano de Santiago do Chile e agora na Copa Rio continua demonstrando suas altas qualidades, salvando tentos certos na fase eliminatória, quando manteve invicto o seu arco. Nas semifinais, foi vencido apenas duas vezes. A argumentação de que o sistema defensivo tricolor não permite tiros perigosos ao arco guarnecido por Castilho, e este, portanto, não teve muito trabalho, não procede, pois se não fossem as suas 'milagrosas', pois temos que chamar de milagrosas intervenções, pois ele fez o impossível, e o Fluminense estaria amargurando reveses fatais que o desclassificariam da Copa Rio, precisamente no ano do seu cinqüentenário. Castilho foi a grande barreira que impediu a queda da cidadela tricolor, enquanto o time se armava para a arrancada final. Após a notável campanha no Pan-Americano do Chile, quando fez a sua prova de fogo, Castilho provou na Copa Rio que é uma barreira internacional. É por isso que se diz às vezes que um goleiro vale por um time." [8]

Quando o prefeito da cidade, João Carlos Vital, entregou a belíssima Copa Rio ao nosso capitão Píndaro, aconteceu o momento sublime: todos os presentes no Maracanã perceberam que o mundo é tricolor. A Terra é verde, branca e grená. O planeta inteiro está aos pés do Fluminense Football Club, Campeão Mundial Interclubes.

Ficha técnica: Fluminense 2 x 2 Corinthians
Data: 02/08/1952.
Local: Maracanã, Rio de Janeiro.
Fluminense: Castilho; Píndaro e Pinheiro (Nestor); Jair, Édson e Bigode; Telê (Róbson), Didi, Marinho, Orlando Pingo de Ouro e Quincas. Técnico: Zezé Moreira.
Corinthians: Gilmar; Homero e Olavo; Idário (Sula), Goiano e Julião; Cláudio, Luizinho (Souzinha), Carbone, Jackson e Colombo. Técnico: Rato.
Árbitro: Gabriel Tordjaman (França).
Público pagante: 53.074.
Público presente: 65.946.
Renda: CR$ 1.506.379,00.
Gols: Didi (aos 10 minutos do primeiro tempo), Jackson (aos 11 do segundo), Marinho 
(aos 25 do segundo) e Souzinha (aos 44 do segundo).




EXCLUSIVO: foto do time campeão na noite do triunfo:



Fonte: Jornalheiros




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