sábado, 5 de fevereiro de 2011

Recordar é viver - Fluminense x Barcelona


*O verdadeiro Fluminense diante do Barcelona*

New Jersey, 3 de junho de 1984.

Há uma semana, o Fluminense conquistava o bicampeonato brasileiro, num Maracanã com gente escorrendo pelas paredes. Consequência da campanha extraordinária: cinco tricolores convocados para o escrete (Paulo VictorJandirDeley, Tato e Assis). Assim, viajamos muito desfalcados para os Estados Unidos.

Estreamos no Giant Stadium empatando diante dos italianos da Udinese, na quarta-feira (1 a 1). Como perdemos a disputa de pênaltis, restou-nos a decisão de terceiro lugar, contra o Barcelona de Diego Armando Maradona, que perdera para o americano New York Cosmos (5 a 3). Na plateia, havia quarenta mil pessoas ansiosas para assistir a um futebol do mais alto nível.

E elas certamente ficaram satisfeitas. Logo no começo, Washington apareceria na cara do gol, mas foi derrubado por Migueli na entrada da área. Paulinho cobrou bem a falta, mas Amador espalmou a córner. Pouco depois, Duílio chutou forte, e no rebote Renê arrematou, para outra boa defesa do goleiro Amador. O Tricolor dominava mesmo as ações no primeiro tempo. Após bela arrancada pelo flanco esquerdo, Leomirinvadiu a área e só foi parado pela arrojada saída de Amador.

Aos 27 minutos, a situação começou a mudar. Mágico González é agarrado por Duílio na entrada da área. Maradona cobra na barreira, mas Estella se aproveita do rebote e estufa as redes tricolores: gol do Barcelona, 1 a 0.

Aos 39, Clos arranca pela direita, e quase amplia para a equipe azul-grená. Agora, são os espanhóis que dominam as ações. Aos 41, Maradona arrisca de fora da área, mas a bola passa longe do gol defendido por Ricardo Lopes.

Aos 44, Romerito faz um lançamento espetacular para Aldo. O lateral tricolor levanta na área, e Paulinho bate de primeira: gol do Fluminense, 1 a 1! O futebol é o esporte mais imprevisível. Quando o Fluminense dominava, o Barcelona fez o seu gol. Quando o Barcelona dominava, o Fluminense empatou.

Vem o segundo tempo e o Barcelona continua melhor. Logo no primeiro minuto, Francisco Javier Clos faz grande jogada e passa a Maradona. Don Diego sofre mais uma falta. A infração é cobrada rapidamente,Husillos invade a área, mas adianta demais e a defesa tricolor afasta.

O Fluminense reage com Branco, que lança Romerito. O craque paraguaio invade a área e bate cruzado. A bola sai pela linha de fundo, raspando na trave esquerda dos arcos defendidos por Lorenzo Amador.

Após dois escanteios consecutivos, o quadro catalão voltou a levar perigo. Aos 10, a pressão azul-grená resultou no segundo tento. Um passe espetacular de Maradona deixou González na cara do gol, e o Mágiconão perdoou: Barcelona 2 a 1.

Mas o Fluminense não estava disposto a sair de campo derrotado. Dois minutos depois, Aldo fez sua tradicional jogada de overlapping pela direita e cruzou. Oswaldo empurrou Paulinho, e o árbitro Robert Evans marcou o pênalti. Romerito cobrou com a habitual categoria: 2 a 2.

Pouco depois, escanteio para o Barcelona e uma gracinha de Maradona: o melhor jogador do mundo empurra a bola para as redes usando a mão! O juiz Robert Evans, em cima do lance, marca a infração, e anula o gol. O placar segue empatado em 2 a 2 - no dia 22/06/1986, na Copa do Mundo, Don Diego faria mais um gol de mão, no jogo Argentina 2 x 1 Inglaterra. Dessa vez, o juiz da ocasião acabaria validando o tento, que classificou a Argentina às semifinais do torneio, em que viria a albiceleste se sagrar campeã.

O jogo seguia atraente. As principais jogadas do Fluminense nasciam das tabelas de Aldo com Wilsinhopela direita. Pelo Barcelona, quem se destacava era Maradona, com suas arrancadas e passes. Quando faltavam apenas quinze minutos para a prorrogação, Washington acertou uma bela meia-bicicleta. Mas Amador fez grande defesa, espalmando para escanteio.

Com o tempo normal quase terminando, González cruzou da direita e Husillos finalizou com perigo, mas a bola saiu pela linha de fundo. Ainda houve tempo para Ricardo Lopes bater mal um tiro de meta, nos pés de Maradona. O argentino avançou com perigo, mas foi elegantemente parado por um desarme do capitão Duílio.

A prorrogação teve novidades: foram dois tempos de dez minutos cada, com morte súbita, isto é, um gol encerraria a disputa. As melhores chances foram do Fluminense. No início do primeiro tempo extra, Branco levou perigo ao gol de Amador, em cobrança venenosa de falta - no dia 09/07/1994, em Dallas, Branco faria um gol de falta em circunstâncias parecidas, no jogo Brasil 3 x 2 Holanda, válido pela Copa do Mundo dos Estados Unidos. O tento classificaria o Brasil às semifinais do torneio, em que a Seleção se sagraria campeã.

Aos oito minutos, Renê fez grande jogada e passou a Romerito. O craque paraguaio chutou da entrada da área, para mais uma grande defesa de Lorenzo Amador, que espalmou a córner. Aos 10, mais uma vez Branco arriscou de fora da área, mas a bola saiu pela linha de fundo, à direita do arco catalão. No segundo tempo, Mágico González arrancou pela esquerda, mas foi parado por Duílio, em mais um elegante desarme. Logo depois, Duílio alçou a pelota na área, na cabeça de Washington. Amador fez mais uma grande defesa, evitando novamente o tento do Fluminense.

No final da prorrogação, o Tricolor quase chegou ao gol da vitória. Paulinho cruzou da esquerda, e Romerito cabeceou forte. Porém, lá estava mais uma vez o arqueiro catalão, espalmando para escanteio. Lorenzo Amador coroava definitivamente sua grande atuação.

Então fomos para a decisão por pênaltis. Nesse outro esporte, que pode ser tudo menos futebol, o Barcelona nos venceu por 5 a 4. Romerito desperdiçou a primeira cobrança, defendida por Amador. Mas o goleiro se adiantou, e Robert Evans mandou voltar. Em vão, pois na segunda cobrança nosso craque paraguaio isolou. Depois Husillos, Mágico González, Maradona, Giménez e Canizares converteram para o Barcelona; e Duílio, Paulinho, Washington e Leomir marcaram para o Fluminense.

Voltamos da América com dois empates contra dois dos melhores times do mundo, a Udinese e o Barcelona.


A abarrotada sala de troféus da rua Álvaro Chaves, no entanto, clamava por mais taças. Começava a sentir o cheiro do bicampeonato carioca.



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Observação
: foi o último jogo de Diego Armando Maradona com a camisa do Barcelona. Ele se transferiu para o Napoli, da Itália, em uma transação de nove milhões de dólares.


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Ficha técnica:

Fluminense 2 x 2 Barcelona-ESP
 - Decisão do terceiro lugar do Torneio Transatlântico de 1984.
Fluminense: Ricardo Lopes; Aldo, Duílio, Vica e Branco; Leomir, Renê e Romerito; Wilsinho, Washington e Paulinho. Técnico: Carlos Alberto Parreira.
Barcelona: Amador; Oswaldo, Migueli (Canizares), Valor e Leiva (Giménez); Olmo, Estella, Husillos e Maradona; Clos e "Mágico" González. Técnico: César Luis Menotti (Argentina).
Árbitro: Robert Evans (EUA).
Gols: Estella e Mágico González para o Barcelona; Paulinho e Romerito (PK) para o Fluminense.
Cartões amarelos: Olmo, Clos e Husillos (Barcelona); Renê, Duílio e Paulinho (Fluminense).
Pênaltis: Barcelona 5 x 4 Fluminense.

Fonte: Jornalheiros



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